Devolutivas das atividades por e-mail para albinomoreira@professor.educacao.sp.gov.br
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Data de Entrega:
Reflexões sobre raça e eugenia no Brasil a partir do documentário "Homo sapiens 1900" de Peter Cohen (trechos de artigo)
Lilian de Lucca Torres
Dizem-nos os dicionários que 'tolerância' e 'intolerância' são conceitos extremos e incompatíveis entre si, e, por este modo os definindo, concitam-nos a situar-nos, com exclusão de outras alternativas, em um daqueles dois polos, como se, além deles, não pudesse existir outro espaço, o espaço do encontro e da solidariedade. (...) Ponderadas as situações, observados os comportamentos, que é a tolerância senão uma intolerância ainda capaz de vigiar-se a si mesma, mas temerosa de ver-se denunciada aos seus próprios olhos, sob a ameaça do momento em que as novas circunstâncias lhe arranquem a máscara que outras circunstâncias, de sinal contrário, lhe haviam colado à pele, como se aparentemente fosse já a sua própria? Quantas pessoas, hoje intolerantes, eram tolerantes ainda ontem?" (José Saramago, “Os escritores perante o racismo”, 1996, p. 79).
No livro “Teoria cultural de A a Z”, Andrew Edgar e Peter Sedgwick apresentam uma definição de raça como “um modo de classificação dos seres humanos que os distingue com base nas propriedades físicas (por exemplo, cor da pele, características faciais) que propositadamente derivam de herança genética” (2003, p. 273). Neste enunciado, raça remete-se a uma forma de apreensão que parte de caracteres físicos naturais, escolhidos para “recortar” o real (“os seres humanos”) e criar categorias ordenadoras determinadas de representação e poder
"Para os americanos, branco é branco, preto é preto
(E a mulata não é a tal)
Bicha é bicha, macho é macho
Mulher é mulher e dinheiro é dinheiro
E assim ganham-se, barganham-se, perdem-se
Concedem-se, conquistam-se direitos
Enquanto aqui embaixo a indefinição é o regime
E dançamos com uma graça cujo segredo nem eu mesmo sei
Entre a delícia e a desgraça, entre o monstruoso e o sublime"
(Caetano Veloso, Americanos)
Para Edgar e Sedgwick, raça aparece travestida com uma roupagem objetiva e naturalizada, que mascara sua dimensão social, dificultando a percepção de que todo sistema classificatório é uma construção, envolve avaliação e seleção, e, como tal, remete-se a formas culturalmente
Na sua "Declaração sobre Raça" (1998), a Associação Norte-Americana de Antropologia afirma:
Dado o nosso conhecimento a respeito da capacidade de seres humanos normais serem bem-sucedidos e funcionarem dentro de qualquer cultura, concluímos que as desigualdades atuais entre os chamados grupos raciais não são conseqüências de sua herança biológica, mas produtos de circunstâncias sociais históricas e contemporâneas e de conjunturas econômicas, educacionais e políticas (apud Pena & Bortolini, 2004).
No país “das cores e nomes”, como certa vez escreveu Lilia M. Schwarcz (2000) sobre o Brasil, onde, em pesquisa realizada pelo IBGE (1976), os habitantes se auto-atribuíram 136 cores diferentes, as múltiplas representações quanto à aparência dificultam uma classificação inequívoca entre brancos, pardos e negros para fins de sistemas de cotas
No Brasil, quase quatro séculos de escravidão e, após o fim desta, o fortalecimento das teorias que nos depreciavam por sermos um povo mestiço geraram condições históricas avessas a um processo dirigido de inclusão. A sociedade brasileira está discutindo a reparação histórica e, como foi visto, o debate se dá não só no campo econômico, mas no ético. Como ressaltou Kabengele Munanga, a ascensão social dos negros não elimina por si só o preconceito racial que, antes de ser uma questão econômica, é uma questão de ordem moral (1996)
Após leitura e reflexão, responda
Afinal, quem decide que as “diferenças” devem ser definidas através da raça?
De acordo com a leitura, a quem serve a classificação das raças?
Existe racismo no Brasil? Justifique sua resposta.
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