ATIVIDADE #3
Respondam as questões e enviem juntamente com as atividades anteriores para o e-mail profaisabel13@gmail.com
*data de entrega/envio 28/04/2020
A moça tecelã.
Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.
Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.
Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.
Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranquila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.
Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.
— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.
— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.
Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!
Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.
Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte."
COLASANTI, Mariana. Doze reis e uma moça no labirinto do vento. Rio de Janeiro, Nórdica, 1892.
INTERPRETAÇÃO DE TEXTO
01. Como vivia a moça tecelã descrita no texto?
02. Ao tecer, a moça interferia somente na natureza? Justifique sua resposta.
03. Em um determinado ponto do conto a moça tecelã se sentiu sozinha, você acredita que todo ser humano necessita de companhia para ser feliz? Justifique sua resposta.
04. Se você possuísse um tear mágico como a moça do texto, o que você faria? Por quê?
05. Na frase “ ... lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte”, o verbo desenhar equivale a:
a) delinear
b) descrever
c) apresentar
d) destacar
e) surgir
06. Com o tempo, o caráter do marido se revelou, ele passou a ser:
a) Ambicioso - Pois passou a explorar o poder do tear e obrigava sua mulher a tecer coisas maiores e melhores.
b) Invejoso - Pois desejava possuir o mesmo poder que a sua mulher.
c) Mentiroso- Pois criava motivos falsos para que sua mulher construísse casas, palácios e riquezas.
d) Rancoroso- Pois guardava mágoas da moça tecelã e gostaria de possuir o mesmo poder.
e) Arrogante - Pois não respeitava os desejos da tecelã.
07. De acordo com o contexto, dê o significado das palavras e expressões em destaque:
a) “ [...] Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido...”
b) E foi passando com vagareza, entre os fios, delicado fio de luz.
c) “[...] começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia.”
d) “[...] E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias
08. No texto A moça tecelã encontramos em diversas passagens, a personificação de elementos, ou seja, elementos da natureza possuem fala de seres humanos. Marque a alternativa em que esse processo ocorra:
I. “Leve a chuva vinha cumprimentá-la à janela.”
II. “ Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas”
III. “ Para que o sol voltasse a acalmar a natureza”
IV. “Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas ...”
V. “A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol.”
a) I,II, e IV
b) I,II, III e IV
c) I, II e III
d) I, II e V
e) TODAS
09. Das ideias abaixo, qual é coerente com o texto?
a) É impossível ser feliz sozinho.
b) A riqueza é fundamental para a felicidade.
c) As mulheres devem obedecer seus maridos.
d) Cada pessoa precisa lutar pela própria felicidade.
e) A verdadeira felicidade deve ser compartilhada.
Professora é pra tirar foto do caderno ou manda tudo digitado?