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l TERMO A, B- LÍNG. PORTUGUESA E LITER. - 2° BIMESTRE - ATIVIDADE 4 - PROFESSORA MARIA

Updated: Aug 4, 2020


OLÁ, PESSOAL!

ESPERO QUE VOCÊS ESTEJAM BEM E SE CUIDANDO!

As dúvidas enviem por e-mail ou whatsapp 96632-6140 - das 19h. às 22:30h.

Escrevam com letra legível.

Data de entrega: até 30/07/2020

Não se esqueçam de colocar nome, número, série e o número da atividade.


Leiam o conto com atenção (será necessária mais de uma leitura). Prestem atenção também na pontuação.

Algumas palavras destacadas (em negrito) estão com seus significados relacionados no final do texto. Não fiquem com dúvidas de palavras desconhecidas. Usem o dicionário.

Obs.: Caso queiram o áudio do conto, peçam pelo whatsapp e enviarei para que possa auxiliar na leitura.

Esta etapa está acabando.

Vamos lá!


O menino que escrevia versos

Mia Couto De que vale ter voz se só quando não falo é que me entendem? De que vale acordar se o que vivo é menos do que o que sonhei? (Versos do menino que fazia versos)


— Ele escreve versos!

Apontou o filho, como se entregasse criminoso na esquadra. O médico levantou os olhos, por cima das lentes, com o esforço de alpinista em topo de montanha.

— Há antecedentes na família?

— Desculpe doutor?

O médico destrocou-se em tim-tins. Dona Serafina respondeu que não. O pai da criança, mecânico de nascença e preguiçoso por destino, nunca espreitara uma página. Lia motores, interpretava chaparias. Tratava bem, nunca lhe batera, mas a doçura mais requintada que conseguira tinha sido em noite de núpcias:

— Serafina, você hoje cheira a óleo Castrol.

Ela hoje até se comove com a comparação: perfume de igual qualidade qual outra mulher ousa sequer sonhar? Pobres que fossem esses dias, para ela, tinham sido lua-de-mel. Para ele, não fora senão período de rodagem. O filho fora confeccionado nesses namoros de unha suja, restos de combustível manchando o lençol. E oleosas  confissões de amor.

Tudo corria sem mais, a oficina mal dava para o pão e para a escola do miúdo. Mas eis que começaram a aparecer, pelos recantos da casa, papéis rabiscados com versos. O filho confessou, sem pestanejo, a autoria do feito.

— São meus versos, sim.

O pai logo sentenciara: havia que tirar o miúdo da escola. Aquilo era coisa de estudos a mais, perigosos contágios, más companhias. Pois o rapaz, em vez de se lançar no esfrega-refrega com as meninas, se acabrunhava nas penumbras e, pior ainda, escrevia versos. O que se passava: mariquice intelectual? Ou carburador entupido, avarias dessas que a vida do homem se queda em ponto morto?

Dona Serafina defendeu o filho e os estudos. O pai, conformado, exigiu: então, ele que fosse examinado.

— O médico que faça revisão geral, parte mecânica, parte eléctrica.

Queria tudo. Que se afinasse o sangue, calibrasse os pulmões e, sobretudo, lhe  espreitassem o nível do óleo na figadeira. Houvesse que pagar por sobressalentes, não importava. O que urgia era pôr cobro àquela vergonha familiar.

Olhos baixos, o médico escutou tudo, sem deixar de escrevinhar num papel. Aviava já a receita para poupança de tempo. Com enfado, o clínico se dirigiu ao menino:

— Dói-te alguma coisa?

— Dói-me a vida, doutor.

O doutor suspendeu a escrita. A resposta, sem dúvida, o surpreendera. Já Dona Serafina aproveitava o momento: Está a ver, doutor? Está ver? O médico voltou a erguer os olhos e a enfrentar o miúdo:

— E o que fazes quando te assaltam essas dores?

— O que melhor sei fazer, excelência.

— E o que é?

— É sonhar.

Serafina voltou à carga e desferiu uma chapada na nuca do filho. Não lembrava o que o pai lhe dissera sobre os sonhos? Que fosse sonhar longe! Mas o filho reagiu: longe, porquê? Perto, o sonho aleijaria alguém? O pai teria, sim, receio de sonho. E riu-se, acarinhando o braço da mãe.

O médico estranhou o miúdo. Custava a crer, visto a idade. Mas o moço, voz tímida, foi-se anunciando. Que ele, modéstia apartada, inventara sonhos desses que já nem há, só no antigamente, coisa de bradar à terra. Exemplificaria, para melhor crença. Mas nem chegou a começar. O doutor o interrompeu:

— Não tenho tempo, moço, isto aqui não é nenhuma clinica psiquiátrica.

A mãe, em desespero, pediu clemência. O doutor que desse ao menos uma vista de olhos pelo caderninho dos versos. A ver se ali catava o motivo de tão grave distúrbio. Contrafeito, o médico aceitou e guardou o manuscrito na gaveta. A mãe que viesse na próxima semana. E trouxesse o paciente.

Na semana seguinte, foram os últimos a ser atendidos. O médico, sisudo, taciturneou: o miúdo não teria, por acaso, mais versos? O menino não entendeu.

— Não continuas a escrever?

— Isto que faço não é escrever, doutor. Estou, sim, a viver. Tenho este pedaço de vida — disse, apontando um novo caderninho — quase a meio.

O médico chamou a mãe, à parte. Que aquilo era mais grave do que se poderia pensar. O menino carecia de internamento urgente.

— Não temos dinheiro — fungou a mãe entre soluços.

— Não importa — respondeu o doutor.

Que ele mesmo assumiria as despesas. E que seria ali mesmo, na sua clínica, que o menino seria sujeito a devido tratamento. E assim se procedeu.

Hoje quem visita o consultório raramente encontra o médico. Manhãs e tardes ele se senta num recanto do quarto onde está internado o menino. Quem passa pode escutar a voz pausada do filho do mecânico que vai lendo, verso a verso, o seu próprio coração. E o médico, abreviando silêncios:

— Não pare, meu filho. Continue lendo...


COUTO, Mia. O fio das missangas. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p.131-134


figadeira: fígado pôr cobro a: pôr fim, reprimir apartada: à parte


QUESTÕES DE INTERPRETAÇÃO Questão 1. Os primeiros parágrafos sugerem:

(A) a origem aristocrática do menino que escrevia versos.

(B) a origem humilde e o acesso precário à cultura letrada da família.

(C) uma tendência da família em construir conflitos desnecessários.

(D) o orgulho da família por ter um filho que gostava de ler e de escrever versos.

(E) o contexto propício aos estudos em que o menino crescia.


Questão 2. Os personagens apresentados no conto são:

(A) apenas a mãe, o menino e o médico.

(B) apenas a mãe e o médico.

(C) apenas a mãe, o pai e o médico.

(D) apenas a mãe, o pai, o médico e o menino.

(E) apenas o menino e o médico.


Questão 3. De acordo com o texto, é correto afirmar:

(A) O menino é limitado em suas habilidades e, por isso, precisa ser protegido pelo doutor, que o acolhe e o incentiva.

(B) A sociedade valoriza as pessoas que se dedicam à literatura.

(C) A literatura ameaça as classes dominantes e, por isso, o doutor procura meios para controlar a produção do menino.

(D) O fazer literário não é reconhecido como um trabalho útil e normal no contexto histórico e social vivido pelos pais do menino.

(E) A literatura é vista, pela família, como uma área importante na formação do sujeito.


Questão 4. Sobre a relação familiar, é possível observar que:

(A) o pai e a mãe eram contra os estudos do filho.

(B) o pai e a mãe estavam de acordo com relação ao fato do filho precisar estudar.

(C) o filho não queria estudar, mas os pais o obrigavam a ir para a escola.

(D) o pai entendia a importância dos estudos na vida do filho, enquanto a mãe os condenava.

(E) enquanto o pai era contrário aos estudos do filho, a mãe procurava defender o direito à educação do menino.


Questão 5. Com relação ao comportamento do médico, é correto afirmar:

(A) O doutor ignora a aflição da mãe e não reconhece o talento do menino.

(B) O doutor defende o posicionamento do pai e entende que o hábito do menino escrever é hereditário.

(C) O doutor ignora o menino e não reconhece o seu talento.

(D) O doutor se sente humilhado pelo talento do menino e, por isso, vinga-se dele, internando-o.

(E) O doutor reconhece o talento do menino e interna-o para que possa continuar a sonhar, a ler e a escrever.


Questão 6. Quando o doutor pergunta ao menino “Dói-te alguma coisa?” (linha 32), ele se surpreende com a resposta, porque:

(A) percebeu que a doença do menino era terminal.

(B) o menino evidencia oferecer risco para a sociedade, por ter traços violentos.

(C) o menino era muito jovem para conhecer as dores que o simples fato de viver pode provocar.

(D) o menino estava sendo irônico.

(E) o doutor não tinha paciência com doentes que não respeitavam sua autoridade.


Questão 7. A partir do texto, é possível inferir que a decisão do médico de internar o menino:

(A) deriva da agressividade da mãe com relação ao filho.

(B) deriva da percepção de que o menino poderia agredir a mãe a qualquer momento.

(C) deriva da percepção de que a sensibilidade do menino não era acolhida pelo contexto em que vivia.

(D) é aleatória e não tem uma clara intencionalidade.

(E) tem vistas a ganhar dinheiro com a produção literária do menino.


Questão 8. O pai afirma ter vergonha do filho (“O que urgia era pôr cobro àquela vergonha familiar”, linha 30), porque, segundo o seu raciocínio:

(A) o filho devia estudar mais e obter bons resultados escolares.

(B) o filho, ao invés de escrever versos e estudar, devia se relacionar com meninas.

(C) o filho, ao invés de escrever versos e estudar, devia trabalhar.

(D) o filho era muito distraído e não obtinha sucesso nas suas iniciativas.

(E) o filho se demorava muito tempo a escrever versos para as meninas.


Questão 9. No contexto em que se apresenta, “sisudo” (linha 54) poderia ser substituído sem prejuízo do sentido por:

(A) sério.

(B) brincalhão.

(C) intolerante.

(D) desafiador.

(E) afetivo.


Questão 10.

O pronome em destaque em “Tudo corria sem mais” (linha 15) representa o grupo dos pronomes:

(A) indefinidos.

(B) demonstrativos.

(C) relativos.

(D) possessivos.

(E) interrogativos.

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